Quando efetuamos considerações
sobre a utilidade de vacinas no âmbito da saúde
pública, cremos, costumeiramente, ser adequado relembrar
os quatro mandamentos que governantes devem valorizar em seus
programas de caráter médico-assistencial e sanitário.
Levados em conta, evitarão muitas enfermidades, infecciosas
ou não, demonstrando o indiscutível respeito às
medidas preventivas.
Os mandamentos são: promoção da saúde;
prevenção de doenças; diagnóstico
e tratamento; atenção em relação
às seqüelas e à reabilitação
profissional.
Promoção da saúde diz respeito sobretudo
a convenientes salário, habitação, alimentação,
educação e saneamento básico. A prevenção
de doenças tem nexo, por exemplo, com a profilaxia do
alcoolismo, do tabagismo, da toxicomania, dos acidentes e das
doenças sexualmente transmissíveis, englobando
a aids. Neste tópico está a utilização,
bem estruturada e com respaldo científico, de vacinas
eficazes. Lamentavelmente, no panorama atual, para diagnóstico
e tratamento há consumo da maior parte dos recursos materiais
de natureza oficial. Por fim, a propósito do quarto item
não é injusto reconhecer que sucede inegável
descaso, pois existem pouquíssimas instituições
dedicadas às questões atinentes a tal contexto.
Agora situaremos nosso enfoque no emprego de vacinas. Sem dúvida,
análise cuidadosa do que acontece no conjunto de assuntos
lembrados e, sobretudo, na segunda parte citada, mostra a relevância
do uso de tais instrumentos preventivos, que propiciam proeminentes
e elogiáveis resultados.
Contudo, desinformações a despeito dos comuns
esclarecimentos divulgados por órgãos governamentais
ou por entidades científico-assistenciais, comodismo,
personalismo, crendice e desinteresse sem nenhuma dúvida
geram percalços ao proveitoso emprego de vacinas. Porém,
é também muito maléfico o comportamento
de adeptos de determinadas religiões e de alguns sistemas
rotulados como alternativos no âmbito
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da Medicina. Referimo-nos como ilustração a muitos
homeopatas e defensores da tática ortomolecular. Dizem
que o correto é adquirir enfermidades infecciosas para
a imunidade advir naturalmente, esquecendo-se das complicações
e seqüelas não raramente devidas a esses males,
quando até óbitos chegam a ocorrer.
Capricho, despreparo, espírito contestador e defesa de
esdrúxulos princípios, tudo sem documentação
científica ou em avaliações bem-sucedidas,
não podem merecer acatamento. São danosos para
pessoas individualmente, para a comunidade e para o desejado
sucesso em tarefas concernentes à saúde pública.
Não é aceitável que campanhas de vacinação
estipuladas com propósitos cuidadosamente delineados
e respeitando prioridades, não alcancem os objetivos
desejados em virtude de objeções como as apontadas.
E mais: afigurar-se digna de ações punitivas,
em diferentes instâncias, a perturbação
no desenvolvimento de imunizações durante combate
a surtos epidêmicos. Nestes eventos e nos pouco antes
citados, os perturbadores causam desperdícios mormente
de verbas públicas, porquanto as iniciativas não
atingem as metas almejadas em face à persistência
de suscetíveis às infecções focalizadas.
Outro tópico, entre outros rememoráveis, está
na legislação trabalhista, segundo o qual os patrões
têm a obrigação de proteger os empregados
quanto a múltiplos percalços, inclusive por meio
de vacinas. Eles freqüentemente não cumprem o necessário
e os imunizáveis, quando alertados e convocados, só
em algumas ocasiões predispõem-se a participar.
É mais uma inadequação, demonstrativa de
liberalidade em condição sustentada legalmente.
Excepcionais efeitos adversos de imunizações são
explorados pelos que se satisfazem em denegri-las. Eles sucedem
muito raramente se considerarmos os extraordinários números
dos vacinados, obtendo correspondentes e abundantes proteções.
De fato, acontecem acidentes irrisoriamente destacáveis
perante as vantagens obtidas, em termos de benefícios
pessoais e coletivos.
Não é admissível que os obstáculos
citados impeçam o pleno aproveitamento da potencialidade
de vacinas que contam com rigoroso respaldo científico.
Pessoas, instituições de diversas naturezas, além
de programas preventivos, apenas para lembrar alguns exemplos,
e a saúde pública em sentido amplo, não
podem ter prejuízo em seus beneméritos intuitos
preventivos. Impõe-se, portanto, que o Ministério
da Saúde, atualmente vigoroso defensor da utilização
de eficazes recursos de natureza imunológica, adote em
caráter oficial determinação para impedir
que continuem influindo inaceitáveis e até grotescas
interferências.
Compulsoriedade é a solução. No Brasil
contamos com profissionais que rigorosamente, em situações
específicas, encontram-se capacitados a torná-la
válida através de planejamentos bem delineados.
Vicente Amato Neto e Jacyr Pasternak
são médicos e professores universitários
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