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nós ainda temos presente na memória o último
Natal, pois faz pouco tempo e as lembranças ainda estão
vivas. É para todos uma data muito festiva e de alguma
forma, todos a comemoram. Muitos, porém, nem sabem bem
o seu significado.
Para alguns é apenas uma data em que são trocados
presentes, em que se come bem e em que muita gente aproveita para
se fingir de bom. No Natal, há quem goste de se vestir
de Papai Noel: abraços aqui, beijos de lá, presentinhos,
donativos; como vai a família, etc. Mas quando o Natal
passa...
Por falar em Papai Noel, eu também tenho o meu e nesta
data sempre o tiro da caixa. Neste ano, porém, quase o
destruí, como se ele tivesse culpa de alguma coisa, pois,
ao pegá-lo, comecei a pensar nas mazelas da humanidade,
na falsidade, no egoísmo, na falta de ética e, assim
pensando, quando vi, já havia retirado parte da indumentária
do meu Papai Noel.
Foi quando vi pessoas procurando pobres para fazer caridade,
em lugares humildes, e levando a mídia junto para registrar
o fato. Procurando os moradores de rua que estavam sob pontes
e viadutos, e que, depois, passando pelos mesmos lugares, e mesmo
sabendo que os pobres e humildes continuavam lá, nunca
mais olhavam. Talvez só no próximo Natal. Na minha
revolta ou mágoa, sei lá o quê, tirei a barba
do meu Papai Noel.
Continuei procurando uma razão para tê-lo ali na
minha frente representando uma data, para mim tão importante,
e não encontrei esta razão. Aí acabei de
tirar a vestimenta: o meu Papai Noel mais parecia um Judas.
A cor vermelha da sua roupa (que eu tirara) me lembrava o sangue
que todos os dias vemos ser derramado nas grandes guerras ou mesmo
nas guerras do dia-a-dia que vivemos, e que ninguém consegue
dar um fim.
Pensei também na guerra sem armas bélicas, em que
são usadas outras armas, porém tão violentas
como as outras, ou seja: a descrença, o desamor, a ganância,
a traição, a injúria, a inveja, a língua
ferina que destrói o |
semelhante, o pisotear nos inocentes.
Pensei no mundo que não reza, que só vocifera,
grita e desconhece o valor do ser humano.
Foi aí que vi que o meu Papai Noel realmente estava transformado
em um Judas. Eu havia transportado minha ira e insatisfação
para ele, que nada tinha a ver. Senti vergonha e comecei a reconstrui-lo.
Enquanto eu me dedicava ao mister de recompor o meu Papai Noel,
vi que eu havia pensado só nos homens maus e vis, porém,
o mundo, felizmente, não é só feito deles.
Vi que a força moral de um pode converter dez a ter ética,
a ser bom sempre, e a primar pela liberdade, igualdade e fraternidade.
O homem tem livre arbítrio e ele pode ser frutífero
também em condições desfavoráveis.
O homem não é necessariamente o produto do meio
em que vive e, quando quer, mesmo cercado de circunstâncias
desfavoráveis consegue ser bom.
Quem é bom em tempo bom é precariamente bom, mas
quem é bom em tempo mau é heroicamente bom. Quem
só produz frutos em tempos propícios é
sábio, mas quem os produz em tempos adversos é
virtuoso.
Quando vi, meu Papai Noel estava recomposto. Só que,
para meu espanto, era outra figura. Eu, que não sou artista,
fiquei surpreso quando vi que, em vez de Papai Noel, eu havia
automaticamente feito uma imagem de Cristo. E Ele parecia querer
falar comigo, parecia querer responder às minhas indagações,
parecia querer conter a minha ira e dissipar os meus pensamentos
ruins.
Ele não falou comigo, mas eu ouvi: Eu
sou o Natal! Confie e espalhe esta confiança. Só
Eu e os homens de boa vontade poderemos mudar tudo para melhor.
Como Eu sou o Natal, poderei nascer cada dia na vida de cada
um que tiver fé, esperança, coração
sincero, amor, moral e ética e assim haverá um
novo Natal todos os dias!
Até a próxima...
Wilson de Almeida Siqueira
é vice-presidente do CRBM em São Paulo e presidente
da Comissão de Ética e Docência.
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