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Morfologia do corpo vítreo: macroscopia e microscopia

Vitreous body morphology: macroscopy and microscopy
Ronald de Mesquita Soares Rega & Margareth Costa-Neves
Resumo: Foi realizado um estudo sobre a morfologia do corpo vítreo evidenciando seu aspecto macroscópico e sua estrutura microscópica.
Palavras-chaves: Corpo vítreo, macroscopia, microscopia.
Abstract: It was made a study about macroscopy and microscopy of vitreous body.
Key words: Vitreous body, macroscopy, microscopy.
riginada da palavra latina vitreus, que significa parecido com cristal, o corpo vítreo teve suas primeiras descrições morfológicas no final do século 18, apesar de ser conhecido desde o ano 1003 (Kronfeld 1953). Na metade do século 19, vários corantes foram utilizados para evidenciar sua estrutura. Retzius em 1874 e Szent-Gyorgyi em 1917 concluíram que o corpo vítreo era composto por água e fibras (Sebag e Balaz 1989).

MACROSCOPIA
DO CORPO VÍTREO
O corpo vítreo, no olho humano adulto, é uma estrutura gelatinosa e transparente que contém poucas células, mas é desprovido de vasos sanguíneos e fibras nervosas. Está localizado na câmara vítrea que é posterior ao cristalino e limitada póstero lateralmente pela cabeça do nervo óptico e retina e anteriormente pelo corpo ciliar (figura 1). Seu volume é cerca de 4 ml com um peso aproximado de 3,9 gramas. É composto por 99% de água onde estão dispersos sais inorgânicos, glicose, ácido ascórbico, proteínas solúveis e o ácido hialurônico. Seus componentes sólidos constituem apenas 1%, havendo também fibrilas colágenas e algumas proteínas

A periferia do corpo vítreo adjacente ao cristalino, corpo ciliar e retina é mais firme e densa do que seu interior e, por isso, denominada de vítreo cortical. O vítreo cortical apresenta aproximadamente 100 a 300 ìm de espessura e, no olho humano normal, fica fortemente aderido aos tecidos vizinhos (Wolff 1954). Nesta região Balaz et al (1958) descreveu a presença de células, denominadas hialócitos, que sintetizavam ácido hialurônico in vitro. Outro tipo celular, característico do tecido conjuntivo, denominado fibrócito, foi observado apenas em área próximo ao disco óptico (Balazs et al 1964).
O corpo vítreo está separado das estruturas que o circundam por uma membrana basal que isola sua região cortical da retina, corpo ciliar e cristalino. Apenas na região posterior da zônula esta membrana basal não está presente (Faulborn 1987).
A membrana basal é produzida por células do cristalino, epitélio ciliar e pelas células de Muller da retina, sendo formada por várias glicoproteínas e colágeno do tipo IV. Esta membrana, quando observada ao microscópio eletrônico de transmissão, apresenta duas camadas: uma lâmina rarefeita (rara) e uma lâmina densa, com espessura variada (Spencer 1985, Faulborn 1987).

MICROSCOPIA
DO CORPO VÍTREO

Quando analisado ao microscópio de luz, observa-se que o vítreo é constituído por densas membranas que limitam uma porção central ou nuclear. Essas membranas são simples condensações do vítreo que agem como frágeis envoltórios, estando presente em todo o vítreo, exceto na base e na origem do canal hialóide. Salzmann em 1912 constatou a presença de duas membranas limitantes: a anterior e a posterior (Wolff 1954, Spencer 1985).
A membrana limitante posterior começa na base do vítreo, ficando leve

insolúveis (Duke-Elder e Wybar 1961, Prince 1964, Faulborn 1987). O corpo vítreo é um dos meios refringentes do olho, com índice de refração de 1,334, permitindo que as ondas luminosas atinjam a retina, além de ser um veículo para circulação de metabólitos para estruturas adjacentes (Freeman 1968, Spencer 1985).
A forma do corpo vítreo é a da cavidade que o contém, esferoidal, com uma pequena depressão na face anterior, denominada de fossa patelar, que acomoda a convexidade posterior do cristalino (figura 2). Estudado in situ, o vítreo se mostra firmemente aderido ao epitélio ciliar, numa zona adjacente à ora serrata. Esta área, compreendida entre a pars plana do corpo ciliar até a ora serrata, é conhecida como a base do vítreo e foi descrita por Salzmann em 1912. Essa região sofre menos a ação dos fixadores que causam a retração do vítreo. Outra área de inserção é ao redor do disco óptico, de onde se destaca de seu interior um remanescente tubular do espaço primitivamente ocupado pela artéria hialóide, denominado de canal de Cloquet, que se estende através do vítreo em direção à fossa patelar. Uma terceira zona de aderência está situada na periferia da fossa patelar sendo fixado pelo ligamento hialóide-capsular ou de Wieger (Kronfeld 1953).

mente aderida à membrana limitante interna da retina. Em seu trajeto posterior torna-se cada vez mais fina com seus constituintes fibrilares, gradualmente se perdendo para o interior do vítreo.
A membrana limitante anterior não apresenta características de membrana hialóide (transparente, homogênea, com contornos finos) e sim de tecido conjuntivo, apresentando estriações devido sua constituição por fibrilas arranjadas de modo paralelo à superfície da retina. A membrana limitante anterior difere da posterior por não apresentar contato com a membrana limitante interna da retina. Sua porção epiciliar apresenta numerosas fibras zonulares que servem de fixação para a membrana limitante anterior a regiões adjacentes (Wolff 1954).
Quando analisado ao microscópio eletrônico de transmissão e confirmado com a microscopia de varredura, pode-se observar que o corpo vítreo é constituído por uma trama de fibrilas colágenas (Rega et al 1993) figura 3.

Ronald de M.S. Rega
Biomédico, professor do IBMR e UNISUAM e mestre em Morfologia e Biologia Celular pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - USP.
rmsrega@ig.com.br

Margareth Costa-Neves
Bióloga, professora da UNISUAM
e UniverCidade, especialista em Anatomia Humana e mestranda
em Patologia Experimental da UFF. margarethneves@ig.com.br


Referências Bibliográficas

BALAZS EA, SUNDBLAD L & TOTH LZJ. “In vitro formation of hyaluronic acid by cells in the vitreous body and by comb tissue”. Federation Proc. 17:184-187. 1958.
BALAZS EA, TOTH LZJ, ECKL EA & MITCHELL AP. “Studies on the structure of the vitreous body. XII. Cytological and histochemical studies on the cortical tissue layer”. Exp Eye Res. 3:57-71. 1964.
DUKE-ELDER S & WYBAR KC. “System of ophthalmology. The anatomy of the visual system”. Vol II. Henry Kimptons. London 1961.
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WOLFF E. “The development of the eye”. In: Wolff E (ed). The anatomy of the eye and orbit. HK Lewwis & Co Ltd. London. 1954.