Fertilização in vitro convencional (FIV) e Injeção
intracitoplasmática
de espermatozóide (ICSI)
A FIV foi realizada após identificação
e avaliação da maturidade (prófase, metáfase
I e metáfase II) dos oócitos. Esses foram colocados
em placas de Petri em microgotas de 20ml (1 oócito/gota)
de meio Human Tubal Fluid (HTF-Irvine Scientific, USA), suplementado
com 10% de substituto de soro sintético (Irvine Scientific,
USA) e incubados por até 4 horas em estufa a 5% de CO2.Após
esse período uma alíquota da suspensão
de espermatozóides era colocada em cada microgota até
alcançar a concentração de 200 mil espermatozóides
por oócito. A placa era incubada por 18 a 21 horas em
estufa a 5% de CO2, quando então os oócitos eram
denudados para visualização dos prónucleos.
Após a clivagem a qualidade morfológica dos pré-embriões
foi determinada segundo os critérios estabelecidos por
Veeck (Veeck, 1991).
A ICSI foi realizada em placas de Petri (Falcon, USA) em microgotas
de 5ml de meio Human Tubal Fluid modified (HTFmod-Irvine Scientific,
USA), suplementado com 5% de soroalbumina humana (Irvine Scientific,
USA) conforme protocolo anteriormente descrito (Mizrahi et al,
1999). A fertilização foi confirmada entre 17-21
horas após a ICSI e a qualidade morfológica dos
pré-embriões foi determinada segundo os mesmos
critérios da FIV (Veeck, 1991).
RESULTADOS
O número de oócitos identificados em média
no grupo de ICSI foi: <35 anos 9,57; 35-40 anos 6,35; >40
anos 3,93. No grupo de FIV foram identificados: <35 anos
13,5; 35-40 anos 10,02; >40 anos 5,5. Em relação
ao número de embriões que se desenvolveram em
média em cada grupo foram: <35 anos nICSI: 6,77 e
nFIV: 8, 62, 35 a 40 anos nICSI: 4,58 e nFIV: 5,57 e >40
anos nICSI: 2,83 e nFIV: 3. No grupo de pacientes que se submeteram
a FIV foram transferidos em média 4,04 (275/68) embriões
por transferência, já no grupo de ICSI foram cerca
de 3,59 (2335/649) embriões por transferência.
Foram obtidas no total 16 (23,5%; 16/68) gestações
clínicas por transferência no grupo de FIV e 169
(26%; 169/649) no grupo de ICSI, sendo que: <35 anos nFIV:
7 (43,7%) e nICSI: 106 (62,7%); 35-40 anos nFIV: 8 (50%) e nICSI:
59 (34,9%) e >40 anos nFIV: 1 (6,2%) e nICSI: 4 (2,3%).
DISCUSSÃO
O processo de envelhecimento promove a redução
quantitativa do número total de folículos primordiais
no ovário, o que acarretaria também uma alteração
qualitativa nos oócitos disponíveis, promovendo
acentuado aumento na freqüência de trissomia do cromossomo
21 e também de aneuploidias, observadas após análise
de material de abortamento espontâneo (Chih-Chi et al,
2003). De acordo com Chang et al (2002) em geral em programas
de FIV,mulheres com mais idade, produzem menos oócitos
e possuem menor taxa de implantação.
Assim para esse autor esses resultados seriam reflexo tanto
do número reduzido
|
de folículos quanto da qualidade do pool de folículos
(Chih-Chi et al, 2003).
De acordo com nossos resultados pode-se verificar que existe
uma tendência à redução de número
de oócitos coletados e número de embriões
obtidos com o aumento da idade. O grupo de ICSI apresentou uma
redução progressiva no número médio
de oócitos coletados no grupo de pacientes com menos
de 35 anos (9,57 oócitos), passando por 6,35 no grupo
entre 35-40 anos e por fim 3,93 nas pacientes com mais de 40
anos. Distribuição semelhante foi encontrada nos
procedimentos de FIV, com 13,5 oócitos coletados em média
no grupo de menos de 35 anos, 10,02 oócitos no grupo
entre 35-40 anos e 5,5 nas pacientes com mais de 40 anos. Entre
os procedimentos de ICSI e FIV praticamente não houve
diferença entre o número de embriões transferidos
por procedimento (nICSI= 3,59 e nFIV= 4,04). Quanto as taxas
de gestação clinica verificou-se um declínio
com oaumento da idade das pacientes, mais evidente nos resultados
dos procedimentos de ICSI. De forma que para os grupos <35
anos, 35-40 anos e >40 anos encontrou-se: nICSI= 62,7% e
nFIV= 43,7%, nICSI= 34,9% e nFIV= 50% e por fim nICSI= 2,3%
e nFIV= 6,2% respectivamente.
Portanto concluímos que os resultados aqui apresentados
estão concordes com a literatura (Soares et al, 2003;
Chih-Chi et al, 2003) confirmando a hipótese de que a
idade da paciente teria influência nos resultados de gestação
clínica nos procedimentos de fertilização
in vitro. Sendo assim melhorar esses resultados ainda é
um dos grandes desafios a serem vencidos pelos profissionais
da área de reprodução humana.
Roberta Wonchockier
Biomédica (CRBM 4425) responsável pelo Laboratório
de Manipulação de Gametas da Unidade de Reprodução
Humana do Hospital Israelita Albert Einstein, membro do Corpo
Editorial Científico da Revista do CRBM e presidente
do Pronucleo (Sociedade Brasileira de Embriologistas na Área
de Medicina Reprodutiva
Andrea Giannotti Galuppo
Biomédica-pesquisadora da Unidade de Reprodução
Humana do Hospital Israelita Albert Einstein
Françoise Elia Mizrahi
Biomédica (CRBM 5894) da Unidade de Reprodução
Humana do Hospital Israelita Albert Einstein e
vice-presidente do Pronucleo (Sociedade Brasileira de Embriologistas
na Área de
Medicina Reprodutiva)
Nedeje Regina Correa
Biomédica (CRBM 8291) e membro do Conselho Fiscal do
Pronucleo (Sociedade Brasileira de Embriologistas na Área
de
Medicina Reprodutiva)
Jonathas Borges Soares
Médico ginecologista, responsável pelo Laboratório
de Manipulação
de Gametas da Unidade de Reprodução Humana do
Hospital Israelita Albert Einstein
|
Sidney Glina
Urologista, coordenador da Unidade de
Reprodução Humana do Hospital Israelita Albert
Einstein
Nelson Antunes
Junior
Médico ginecologista, responsável
clínico da Unidade de Reprodução Humana
do Hospital Israelita
Albert Einstein
Endereço
para correspondência:
Roberta Wonchockier
Unidade de Reprodução Humana,
7º andar, Hospital Israelita Albert Einstein - Av. Albert
Einstein, 627 Morumbi - São Paulo/SP CEP 05651-901
Fone: (11) 3747-2755
Fax:(11)3747-2705 wonchockier@einstein.br
REFÊRENCIAS
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