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Tese constata contaminação de
crianças por chumbo
Estudo da biomédica Mônica Maria Bastos Paoliello no Vale do Ribeira descarta intoxicação

A biomédica Mônica Maria Bastos Paoliello no XII Congresso Brasileiro de Toxicologia,
em Porto Alegre (acima) e no congresso Metales, Salud el Medio Ambiental, no Chile, com a Nelly Mañay,
do Uruguai, Rômulo Angélica e Bernardino Figueiredo, da Unicamp.

s crianças que moram perto de uma antiga refinaria de chumbo em Adrianópolis, leste do Paraná, estão contaminadas por chumbo, mas não há sintomas evidentes de intoxicação. Esta é a principal conclusão da tese de doutorado “Exposição ao Chumbo em Áreas de Mineração do Vale do Ribeira: Brasil”, da biomédica Mônica Maria Bastos Paoliello. Os níveis médios de chumbo no sangue das crianças passaram dos 10 microgramas por decilitro, limite estabelecido pelo Center for Disease Control (CDC), de Atlanta (EUA). “O chumbo está presente, mas os exames médicos e clínicos não apontaram sintomas evidentes de intoxicação”, afirma a professora. “Mas as crianças continuam sendo examinadas, para se verificar se haverá conseqüências negativas”, esclarece. A tese teve repercussão nacional e foi levada também a congressos internacionais.
Mônica é professora do Departamento de Patologia Aplicada, Legislação e Deontologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná, mas desenvolveu sua tese de doutorado, concluída em abril do ano passado, em Saúde Coletiva no Departamento de Medicina Preventiva e Social da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo.
A tese começou a ser estruturada em
1998, com o objetivo de fazer o primeiro estudo de exposição humana na região. O Vale do Ribeira recebeu muitas empresas de mineração e uma refinaria de chumbo no século passado, atividades que foram encerradas em 1995. A partir dos anos 70, começaram os primeiros estudos ambientais. “Desta vez, os estudos foram conduzidos por um grupo composto por biomédicos, médicos e geólogos”, enumera Mônica. “A Toxicologia como ciência já pressupõe atividades multidisciplinares, porque os problemas geralmente são complexos.”

Atenção — Os resultados da pesquisa chamaram a atenção de autoridades e

"Os estudos foram conduzidos por um grupo composto por biomédicos, médicos e geólogos.
A Toxicologia como ciência
já pressupõe atividades multidisciplinares, porque
os problemas geralmente são complexos."

Mônica Maria Bastos Paoliello, biomédica, professora da Universidade Estadual de Londrina

da população, e Mônica teve de ir várias vezes à Assembléia Legislativa do Paraná, além de conversar com prefeitos da região e representantes da população para esclarecer a situação. O trabalho foi aprovado pela Fapesp, que quer estender o estudo para outros metais no médio Vale do Ribeira (o estudo de chumbo foi realizado no alto Vale).
O interesse despertado pela tese na área acadêmica foi enorme. Parte dela foi publicada no livro “Ecotoxicologia do chumbo e seus compostos”, lançado pelo Centro de Recursos Ambientais do governo da Bahia, e faz parte da série Cadernos de Referência Ambiental. Mônica também escreveu um artigo publicado na revista americana Environmental Research e o capítulo “Chumbo”, do livro “Metais: Gerenciamento de Toxicidade”, da Editora Atheneu, no prelo.
A biomédica ainda deu palestras sobre o tema em congressos no Uruguai (Curso Toxicologia Ambiental de los Metales), no Chile (Metales, Salud e el Medio Ambiental) e na Austrália (9º Congresso Internacional de Toxicologia), e seu trabalho será apresentado no congresso Heavy Metals, no final de maio, em Grenoble (França), além de ser publicado na revista do evento.